sábado, 28 de maio de 2011

S. Teófilo

Entrou escondendo o rosto no cabelo solto, quase desgrenhado. Entrou, e um odor de perfume caro seguia-lhe os passos: ela esgueirando o corpo como se fosse sem razão vir àquele sítio, mas quisesse muito.
Era o sol quase posto, badalavam avé-marias surdas pelos campos. Na capela, rezavam as mulheres do costume - só elas e nem padre, nem mais ninguém que orientasse aquele rezar cadenciado: avé maria cheia de graça, e por aí adiante.
Sentou-se no banco derradeiro, numa ponta junto da parede, e só então descobriu o rosto. E era um olhar tão branco, tão vítreo, tão distante que, a olhar aqueles olhos, se espantariam os bandos de aves, e nem os anjos descuidosos ousariam pousar-lhe no ombro.
E nem rezou, e nem acompanhou a reza das mulheres. 
Destapou um frasquinho negro que trazia apertado na mão, e bebeu de um gole: via-se o escorrer do líquido através da pele.
Os anjos que por ali andavam, por costume, àquela hora, nem se aproximaram quando o corpo, ainda muito jovem, tombou na pedra fria que era o chão da capela.
E nem as mulheres pararam as rezas.
Apenas um dos santos, Teófilo salvo erro, revirou os olhos pintados na madeira do seu corpo de boneco, e chorou duas lágrimas por aquela morte.

2 comentários:

wind disse...

Algo estranho, mas gostei.
Beijos

Jorge Pinheiro disse...

Voltou a inspiração. Recomeçar é sempre melhor do que parar :)

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein