terça-feira, 1 de setembro de 2009

ai o tempo, o tempo

Que te interessa saber do tempo, seu conceito físico ou que seja outro, se o tempo que te mede é o das luas, o tempo em que te inicias, pecaminoso e adultero ou, quase virgem, de um amor impoluto. Um tempo que te oferece o fluxo e refluxo das marés.
Pergunto.
Que te interessa um tempo relativo e o espaço euclidiano associado: quatro dimensões de um universo plano. Ou que seja ele curvo pela gravidade a imiscuir-se.
Pergunto.
Que te interessam relógios atómicos se tens o ciclo do sol e o da lua.
Pergunto.

Tu a quereres saber as condições iniciais de uma cosmologia direccionada a um fim ou a um recomeço: um instante, uma singularidade que te originou ser vivente capaz de perguntar: como? para quê? de onde?
Tu a saberes que cada pergunta será respondida como coisa estatística, ferramenta fundamental dos sistemas imensos: a probabilidade, mesmo que reduzida, de que o tempo flua em sentido inverso e tu possas recordar o futuro.
E tu a pensares no improvável.
Tu a dizeres ontem e amanhã e hoje e a desejares o agora.
Tu a perceberes que só nos intervalos te és ser consciente da tua permanência.
Tu na busca do instante e a tecnologia a simular-to, a doar-te o quase simultâneo entre ti e um acontecer muito, muito longe: o instante apetecido quase tornado real e tu a ficar sem datas nem efemérides, nem estações do ano em que te encontres.
E tu a perderes-te da estrutura que te permite ser dotado apenas para esta e não para outra conjuntura de espaço-tempo-gravidade.
Tu a vislumbrar a contradição suprema que será possuíres o âmago do tempo, apenas no final do intervalo que te foi permitido: o instante da morte.
Que tu te indagas como seria se fosses instante, só instante, sem antes nem futuro. Sem a espera. Sem te aperceberes de ciclos.
Poeira apenas, se o instante te fosse concedido.
Pergunto.
Tu a quereres perceber o porquê do fluxo unidireccionado, irreversível. A querer perceber essa tua inaptidão de recordar o futuro.
Tu a colocares a hipótese de que seja pelo modo como foste concebido: algo originado aquando da criação do universo. Antes, muito antes, de seres sequer um projecto mapeado no espaço-tempo.
E tu a crer que é no local dos sonhos que se encontra a excrescência que restou desse órgão, ou que seja gene, ou algum outro nem sequer dito pelo homem que ainda nem escrutinou dos seus mistérios a esmagadora parte. Lá, no local dos sonhos, o que daria de ti o ser completo num tempo sem antes nem futuros.
Tu a perceberes-te oriundo daquele início e não de um que lhe fosse simétrico.
Tu a pensares se as constantes, universais e sem arredondamentos, seriam diversas se fosse outro o início: outra a fronteira, outra a energia, outras as leis.
Tu a dizer de um tempo, cada vez mais rápido: galáxias e o demais a desviarem-se para a luz vermelha, quiçá uma estereotipada visão de inferno, ou que seja apenas um fenómeno semelhante quando passa por ti um apito cada vez mais agudo.
O Universo a expandir-se para que possa o tempo caber nele.
Pergunto.
Tu a perceber um universo ajoujado dos antes e dos futuros e de todos os instantes, éteres e plasmas e buracos negros a moverem-se para parte nenhuma, que será vazio e lixo, coisa degradada ao seu expoente máximo.
Tu a dizer da flecha apontando ao máximo de entropia.
Diz assim a segunda lei, ou erro.
Pergunto.
E tu a indagar como seria se cada um fosse apenas esse ou talvez um par, umas duas dezenas. Poucos.
Tu a indagar se seria outra a probabilidade, se fosses só tu e mais uns quantos: nada de números muito grandes.
Seria outro o tempo, ou seria mesmo inexistente.
Pergunto.

E tu serias como luz que se acendesse e apagasse sem limite de velocidade.
Fico eu ainda perguntando.

3 comentários:

wind disse...

Escritora, está fabuloso!;)
Beijos

chica disse...

Muito lindo.Gostei!Foi bom conhecer teu blog.beijos,chica

Maria Clarinda disse...

Divinal...tentei seguir-te e ...adorei!
jhs

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

desafio dos escritores
meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein