Gordos. Grandes. Enormes. Nus. Eu via-os ao longe, no outro lado da estrada de quatro vias. Não lhes via o sexo mesmo aos que olhei bem perto por uma porta velha que se abria no que me semelhou uma arrecadação de oficina. Semelham os homens de Bacon. Pensei.
Estava neblina. A noite ía adiantada. Eu jantara.
Batem mãos no vidro. Pedem-me que dê ajuda, que certifique aquele conjunto. Que testemunhe o caso. O homem que me acompanha sai. Namorado ou amigo, não sei. Bate na janela e diz: Masculinas todas. Não entendo como se apercebe assim do sexo daquelas criaturas.
Paráramos por ali por ser por perto a sua casa. Vínhamos de um passeio e estava combinado, talvez pudesse ser, um ir dançar. Ele nem percebo se consegue chegar a casa a buscar um abafo: uma multidão foi-se formando e atafulha passeios. Há gente atravessando as vias e parada no separador central.
Os carros abrandam. Param. Mirones.
Não saio da viatura como me pedem batendo no vidro. Nem abro. Abano, peremptória, o dedo indicador. Está frio lá fora. Enrolo-me no casaco. Olho.
São bastantes os homens grandes. Enormes. Quase gigantes. Tomam banho. Reparo. Atento. Não vejo água, mas eles esfregam-se com barras inteiras de sabão azul e branco.
Sento-me na ponta do banco e olho com curiosidade através do vidro que limpo dos vapores que se formaram. Está frio lá fora e eles nus. Seres por todo o lado. Uns poucos na tal dependência da oficina, e outros, a maioria, ao relento do lado de lá da estrada.
Do que me apercebo, sentada no banco do carro, felizmente pois que entretanto deu em chuva, são apenas quatro. Mas são muitos mais, segundo as vozes e o espanto dos que olham de outra perspectiva. Os que deixaram os carros na berma da via rápida e sobem o morro. Deve estar empapada a terra vermelha pois que a chuva cai copiosa. Pediu-me já que ligasse o limpa pára-brisas.
Cento e trinta e oito, ao todo, dirão amanhã os jornais. Espalhados em outras ruas da cidade. E hão-de referir os nomes.
Lavavam-se com barras de sabão azul e branco, confirmarão, em grandes parangonas, os cabeçalhos.
Roubadas naquele supermercado. Pensei eu. Eu que nem percebo porquê que entende logo a gente que quem se posiciona de modos bem diferentes, terá que ter, em conjunto com tais comportamentos, alguns feios defeitos. Descansamos assim, de ter que os pensar apenas como acostumados a outros modos de estar. Não sei.
Ficaram-me para trás quando arranquei o carro. Decidimos deixar para outro dia o ir dançar. O namorado, ou se calhar amigo que eu no sonho nem sei quem ia comigo, disse: Eu fico. Quero fotografar. E mostrou a máquina de potente objectiva debaixo do casaco que escorria água.
Deixei-os, a ele e aos seres que não eram mulheres, segundo o meu parceiro da noitada adiada. Assim é o que espero.
Estava neblina. A noite ía adiantada. Eu jantara.
Batem mãos no vidro. Pedem-me que dê ajuda, que certifique aquele conjunto. Que testemunhe o caso. O homem que me acompanha sai. Namorado ou amigo, não sei. Bate na janela e diz: Masculinas todas. Não entendo como se apercebe assim do sexo daquelas criaturas.
Paráramos por ali por ser por perto a sua casa. Vínhamos de um passeio e estava combinado, talvez pudesse ser, um ir dançar. Ele nem percebo se consegue chegar a casa a buscar um abafo: uma multidão foi-se formando e atafulha passeios. Há gente atravessando as vias e parada no separador central.
Os carros abrandam. Param. Mirones.
Não saio da viatura como me pedem batendo no vidro. Nem abro. Abano, peremptória, o dedo indicador. Está frio lá fora. Enrolo-me no casaco. Olho.
São bastantes os homens grandes. Enormes. Quase gigantes. Tomam banho. Reparo. Atento. Não vejo água, mas eles esfregam-se com barras inteiras de sabão azul e branco.
Sento-me na ponta do banco e olho com curiosidade através do vidro que limpo dos vapores que se formaram. Está frio lá fora e eles nus. Seres por todo o lado. Uns poucos na tal dependência da oficina, e outros, a maioria, ao relento do lado de lá da estrada.
Do que me apercebo, sentada no banco do carro, felizmente pois que entretanto deu em chuva, são apenas quatro. Mas são muitos mais, segundo as vozes e o espanto dos que olham de outra perspectiva. Os que deixaram os carros na berma da via rápida e sobem o morro. Deve estar empapada a terra vermelha pois que a chuva cai copiosa. Pediu-me já que ligasse o limpa pára-brisas.
Cento e trinta e oito, ao todo, dirão amanhã os jornais. Espalhados em outras ruas da cidade. E hão-de referir os nomes.
Lavavam-se com barras de sabão azul e branco, confirmarão, em grandes parangonas, os cabeçalhos.
Roubadas naquele supermercado. Pensei eu. Eu que nem percebo porquê que entende logo a gente que quem se posiciona de modos bem diferentes, terá que ter, em conjunto com tais comportamentos, alguns feios defeitos. Descansamos assim, de ter que os pensar apenas como acostumados a outros modos de estar. Não sei.
Ficaram-me para trás quando arranquei o carro. Decidimos deixar para outro dia o ir dançar. O namorado, ou se calhar amigo que eu no sonho nem sei quem ia comigo, disse: Eu fico. Quero fotografar. E mostrou a máquina de potente objectiva debaixo do casaco que escorria água.
Deixei-os, a ele e aos seres que não eram mulheres, segundo o meu parceiro da noitada adiada. Assim é o que espero.
Deixei-os sem saber quem eram, nem de onde vinham aquelas criaturas. Homens agigantados que a chuva fez sorrirem de ares felizes. Sorrisos de meninos, foi o que eu vi. Constatei, antes de partir. Corri na estrada com essa imagem terna.
Ao dia de hoje, soube pelo jornal que tenho aqui aberto, que uma enchente de líquido, não sabem ainda se água, deu-se em alagar num dos asteróides que há dias nos esteve bem perto. Serão estes seres fugidos, empurrados da cheia. Suposições, claro.
Ora! Como pode haver seres daqueles em cima de uma pedra? Pergunto sem deixar de ler.
E quem disse que viviam eles assim, enormes, lá no asteróide?!
Continuo a ler.
Engrossaram da força natural que aqui os trouxe. Diz isso no jornal. E segue. Vieram caindo e formando-se tal qual os vimos. Grandes. Enormes. Gordos.
Não percebo, mas não explicam mais.
Mais abaixo, a notícia esclarece as barras de sabão português que me haviam estranhado. Dizem que pura reacção entre ácidos gordos dos que havia na enchente lá do asteróide e uma base forte, dizem que de sódio, que é constitutivo do terreno onde as “coisas” (cito) foram caindo e se transformando nos seres grandes. E disso não se sabe o modo.
Ao dia de hoje, soube pelo jornal que tenho aqui aberto, que uma enchente de líquido, não sabem ainda se água, deu-se em alagar num dos asteróides que há dias nos esteve bem perto. Serão estes seres fugidos, empurrados da cheia. Suposições, claro.
Ora! Como pode haver seres daqueles em cima de uma pedra? Pergunto sem deixar de ler.
E quem disse que viviam eles assim, enormes, lá no asteróide?!
Continuo a ler.
Engrossaram da força natural que aqui os trouxe. Diz isso no jornal. E segue. Vieram caindo e formando-se tal qual os vimos. Grandes. Enormes. Gordos.
Não percebo, mas não explicam mais.
Mais abaixo, a notícia esclarece as barras de sabão português que me haviam estranhado. Dizem que pura reacção entre ácidos gordos dos que havia na enchente lá do asteróide e uma base forte, dizem que de sódio, que é constitutivo do terreno onde as “coisas” (cito) foram caindo e se transformando nos seres grandes. E disso não se sabe o modo.
Mas sabe-se do sabão azul e branco.
E, mais do que os seres, assim de imediato, é o sabão que dá mais cuidado.
Barras demasiadas caíram numa extensão enorme. Ficaram moles com a chuva e derramaram-se pelas estradas. Um flagelo.
Não havia dúvida, diz ali um outro jornal em cima do balcão enquanto pago a sandes e o galão: É sabão português. Azul e branco.
A notícia não diz, mas ouve-se aqui na pastelaria.
Vão mandá-los para uma zona livre de contaminações. Criar-lhes uma ilha no mar alto. Colocá-los numa base espacial. Aos seres, claro. São dóceis e simpáticos. Não falam, mas sorriem e não mostram necessidades de comida. Ao sabão ainda não decidiram que fazer.
E, mais do que os seres, assim de imediato, é o sabão que dá mais cuidado.
Barras demasiadas caíram numa extensão enorme. Ficaram moles com a chuva e derramaram-se pelas estradas. Um flagelo.
Não havia dúvida, diz ali um outro jornal em cima do balcão enquanto pago a sandes e o galão: É sabão português. Azul e branco.
A notícia não diz, mas ouve-se aqui na pastelaria.
Vão mandá-los para uma zona livre de contaminações. Criar-lhes uma ilha no mar alto. Colocá-los numa base espacial. Aos seres, claro. São dóceis e simpáticos. Não falam, mas sorriem e não mostram necessidades de comida. Ao sabão ainda não decidiram que fazer.
Estranho o que se passa nos sonhos. Penso. E saio palitando um dente e remoendo: logo tinha que ser na noite em que eu ia dançar.
13 comentários:
Ou talvez não tão estranho assim, o que se passa nos sonhos..
Texto do domínio da excelência, como sempre.
Beijinhos, MC
Não sei porquê, mas quase que identifiquei o "asteróide"...
"Masculinas todas", e com necessidade de banho!
Sabão azul e branco, pois claro! Que outro sabão poderia limpar sujidades mecânicas?
Interpretado à minha maneira, o teu texto é uma lufada de ar fresco na minha espera de nêspera (ler Mário Henrique-Leiria).
Obrigada por "La Bohème"!!!!!!!
Gostei muito. :)
Adoro teu jeito de escrever, pq cria empatia....a gente consegue entrar no texto....beijos e parabéns pelo talento
Ly
Minha querida, sem tempo nem cabeça para comentar, agradecia qu epassasses pelo último post de hoje tenho uma coisa para ti. Beijos
Excelente! E há aí umas destas criaturas vindas no tal asteróide que eu de bom grado enviaria para a tal base espacial. Com sabão azul e branco à mistura, que o espaço não tem culpa de nada, coitadinho. Beijo!
Uma excelente estória azul e branca...
Abraço.
Gargalhadas Escritora só tu para inventares esta história de ET'S.
Muito boa:)
Beijos
Nos sonhos são projectos de ansiedades... quem será que deseja mandar para a ilha do mar alto? eu cá por mim, sei de uns tantas que tutearia no seu conto, seriamcriaturas masculinas e femininas... manda-las-ía por aí e... sem o sabão sequer!
Um espanto de imaginação, ritmo ,bem escrever ,aliás, como é apanágio seu, minha querida.
Beijinho.
... se eu tinha dúvidas sobre os brincos (se te ficavam bem) do texto abaixo, neste caso só tenho certezas. Que tu andas a sonhar alto. Tão alto, que não te limitas a um edifício de dez ou quinze andares; tem de ser coisa transcendente e sideral, vinda de incontáveis anos-luz e em forma de asteróide "tipo condomínio fechado" habitado por umas dezenas de frequentadores do Meco lá do sítio e suficientemente tarados para se ensaboarem em seco com o português sabão-azul-e-branco. Podia-lhes ter dado para pior e usar sabão-amarelo. Lavavam-se na mesma e eu ficava com os olhos em bico depois de os ler.( ´tás a rir, não é? pensas que eu não te vejo?).
De resto, fizeste a tua parte: a de não distinguires o sexo dos anjos.Pois...
Pois cá a je ficou preocupada com os tombos que o sabão azul e branco atraem. E o jornal não esclarereu isso? Culpa dos jornalistas, claro! Aposto que os entes ficaram por lá passeando de skate azul e branco! Foi uma sorte a polícia não ter passado por lá a caminho do ai ó linda e não ter obrigado os pobres a vestirem calções de fundilhos ao tornezelo!
Ca grande alcagóita de sorte!
Ainda tenho a boca aberta, será que já aposso fechar?
Brincadeira, claro!
Excelente texto! Divinal diria mesmo!
E dá para ficarmos a um passo da realidade se tivermos a paciência de passar barreiras.
Por onde andas?
Beijos
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