segunda-feira, 5 de março de 2007

sorriso


Abriste a porta da conversa dizendo apenas:
- detesto!
como tantas vezes fazias, e eu olhei-te.
- detesto!
dizias na boca pintada de batom rosado e nos olhos muito verdes olhando o infinito.
Eu, esperava que dissesses o que sempre acrescentavas ao detesto.
Esperei mais uma vez de mãos caídas em jeito de pedido, enquanto as tuas se agitavam em gestos compridos.
Eu sorria. Nem ainda hoje percebo porque o fazia, mas sei que sempre sorria nestes inícios de conversa em que fazias gestos compridos, as mãos flutuando hirtas, como se quisesses nelas mostrar que sim, que detestavas mesmo tudo.
Normalmente, erguias o corpo e quase declamavas, agitada, em passadas largas, pontapeando o chão, a voz erguida em tom que se dizia gritavas.
Nessa tarde, pegaras teu corpo ao sofá. Sentada, proclamavas o detesto num quase calada.
Nessa tarde, abrias vastidões de silêncio entre dois detesto.
Pasmado, olhei-te bem de frente e vi, preso nos teus olhos, um grito aflito. Sufocavas na dor de um detesto que era outro diferente.
Abracei-te.
O grito rompeu em choro.
Soluçaste.
Ficou-me o sorriso dependurado na vergonha de não te ter percebido.

9 comentários:

jorge esteves disse...

A compreensão, desta vez, tinha a dimensão exacta de um abraço!...
Gostei!

gato_escaldado disse...

Por vezes "eles" (pois de um "ele" se trata, não é verdade?) são muito distraídos...

Gostei muito.

Gi disse...

Os silêncios também falam. Pena que tão poucos os saibam escutar e ás vezes é preciso tão pouco. basta um gesto :)

Beijinho e resto de um bom dia

wind disse...

Escritora, como passas tão bem para o papel o sentir de uma ela e de um ele.
O sufoco que é guardar o que se sente e não se poder dizer, guardar só para nós.
Adoro como escreves tudo, Escritora:)
beijos

António disse...

Olá!
Foste lá ao meu blog (o que agradeço) mas fiquei com a sensação de que tiveste dificuldades.
Foi isso?

Dá para perceber que escreves bem.

Beijinhos

Pepe Luigi disse...

Passei aqui no teu cantinho para te felicitar o teu excelente trabalho na pág.46 do livrinho que tanto gosto "Que é o Amor?"
Parabéns!

Um beijinho
do Pepe.

António disse...

Olá, nina!
Não sei qual é o teu problema?
Até porque já tens um comentário com o "seilá".
Mas eu explico:
Se não estás inscrita no Sapo, escolhes essa opção. Depois só tens de preencher o espaço do nick e o do endereço do teu blog (além do comentário propriamente dito, claro).
Espero que não haja mais problemas.
Os outros comentários que não vês fui eu que os apaguei porque não diziam nada de especial.
Só deixei ficar um.
Ora tenta de novo.
(se quiseres, claro...eh eh)

Beijinhos

Alberto Oliveira disse...

... nem sempre se entendem os sinais mais evidentes. Umas vezes por pura distração. Outras por falta de copmunicação. Umas vezes pode ser grave. Outras nem por isso.

Um óptimo fim-de-semana, que a primavera já ronda a blogsfera!!

vida de vidro disse...

Como é difícil entender o que vai na alma dos outros! Uma "descomunicação" (acho que tu poderias usar esta palavra :)) muito bem escrita.
Bom domingo de sol. **

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

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ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein