Se te sentares na soleira da porta, eu conto como foi.
Não. Não demora muito. Eu resumo.
Era de tarde, aí pelas três horas de um Dezembro. Ou era Outubro? Olha, isso da data não me lembro – já foi há muito tempo. Mas estava frio e chovera. Isso eu sei porque vestia um camisolão de lã azul e porque me lembro do lume crepitando na lareira. Também te sei dizer que estava sentada, lendo, na mesa grande da cozinha quando eles entraram empurrando a porta de grades. Traziam capas de oleado pretas, molhadas e por baixo samarras daquelas com golas de coelho. Lembro que despiram uma e outra e ficaram com camisas de quadrados. Sim, eu lembro isto e esqueço onde tu estavas nesse preciso dia em que houve o a seguir a esta entrada deles na cozinha aonde eu lia. Não, não sei que livro ou autor lia. Eles sentaram-se na mesa à minha frente bebendo cada um sua caneca do café quente que eu fizera. Não me lembro, se falaram.
Um deles puxou o outro pela manga. Não perguntes qual foi. Eu disso não lembro. Ficaram-me de pé e rolaram pelo chão.
Era de sangue o vermelho que enchia o soalho.
E eu. Perguntas que fazia eu. Não me lembro. Não sei.
Se os apartei. Não sei.
Nem sei quando ou como se apartaram eles.
Sei que chorei. Lembro bem aquele choro sentido e quieto. Um choro espantadiço.
Também sei que o soalho permaneceu vermelho muito tempo.
Mesmo lavado como o fiz depois de haver o a seguir à entrada deles na cozinha, permanecia sangue nos interstícios.
Vês que resumi.
Sabes porque o fiz? Porque eu assisti, mas não me lembro.
Ou, porventura eu nem assisti. Porventura eu apenas vi.
Não. Não demora muito. Eu resumo.
Era de tarde, aí pelas três horas de um Dezembro. Ou era Outubro? Olha, isso da data não me lembro – já foi há muito tempo. Mas estava frio e chovera. Isso eu sei porque vestia um camisolão de lã azul e porque me lembro do lume crepitando na lareira. Também te sei dizer que estava sentada, lendo, na mesa grande da cozinha quando eles entraram empurrando a porta de grades. Traziam capas de oleado pretas, molhadas e por baixo samarras daquelas com golas de coelho. Lembro que despiram uma e outra e ficaram com camisas de quadrados. Sim, eu lembro isto e esqueço onde tu estavas nesse preciso dia em que houve o a seguir a esta entrada deles na cozinha aonde eu lia. Não, não sei que livro ou autor lia. Eles sentaram-se na mesa à minha frente bebendo cada um sua caneca do café quente que eu fizera. Não me lembro, se falaram.
Um deles puxou o outro pela manga. Não perguntes qual foi. Eu disso não lembro. Ficaram-me de pé e rolaram pelo chão.
Era de sangue o vermelho que enchia o soalho.
E eu. Perguntas que fazia eu. Não me lembro. Não sei.
Se os apartei. Não sei.
Nem sei quando ou como se apartaram eles.
Sei que chorei. Lembro bem aquele choro sentido e quieto. Um choro espantadiço.
Também sei que o soalho permaneceu vermelho muito tempo.
Mesmo lavado como o fiz depois de haver o a seguir à entrada deles na cozinha, permanecia sangue nos interstícios.
Vês que resumi.
Sabes porque o fiz? Porque eu assisti, mas não me lembro.
Ou, porventura eu nem assisti. Porventura eu apenas vi.
Ah! Que cabeça tonta! Como podia lembrar onde tu estavas se ainda tu nem lá andavas. Nem eras, tu, ainda.
foto daqui
9 comentários:
Conta outra vez...
Gosto quando contas histórias de quando eu ainda não era
(beijo)
Escritora, excelente "flash" que é esta "estória"!
Parabéns!:)
beijos
Mas aqui sou mesmo eu :-)
noite Feliz
Entre o assistir e lembrar fica a emoção, que devido à idade fica incompreensível. Gostei muito do texto.
Um abraço. Augusto
Que saudades de te ler.... Vamos lá a ver o que está para trás.. beijão e mta saudade
Fernanda
Gostei.
Começo por me chamar a atenção o nome: "Repensando", porque eu tenho o Repensado. Gostei do que li.
Até uma proxima.
... se tu não te lembras, eu ainda muito menos, que a minha memória já não é o que era. Aliás, nunca foi boa; sobretudo para aquilo que não quero recordar...
... e então quando há sangue no chão, muito menos.
Abraço e um óptimo fim-de-semana... que se aproxima.
Mais uma estória excelente.
beijinhos,
Betty
Gosto das suas histórias.
Delicio-me com as "algarviadas" que encontro pelo meio, tais como "bagos de chuva" que há quantos anos não ouvia/lia.
Beijo (de uma algarvia, de Lagos)
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