domingo, 20 de março de 2005

pulsar

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A foto ali especada. Especada tu olhando a foto.
As tuas palavras a desacertarem-se-te como naqueles dias. Lembras-te?
Lembras-te de como as palavras se te desapareciam para muito longe e ficavam apenas sons?! apenas vocábulos dispersos de sim não já vou...
E ficaste com esse olhar que era muito, mas muito mais comprido e muito, mas muito mais desarrumado do que o eram os corredores que conheceste! Um olhar que era o teu olhar de corredor atulhado em partida ou chegada.
Tantos corredores!
Olhaste todos eles naquele teu olhar a fotografia. Nem nunca tinhas sequer pensado que um corredor...muitos corredores...tinham sido parte essencial, parte marcante da vida que já viveste. Uma parte tão tanto escondida, ali desvendada no olhar uma foto de um corredor que nem sequer é nenhum dos aqueles que viste olhando a foto. Nenhum dos muitos tantos compridos desarrumados corredores. Quem pensaria fotografar um dos corredores onde as malas se acumulavam no entretanto de uma outra casa com um outro corredor?!
Alguns iriam ser corredores em outra terra. Longe.
As palavras deixavam de se tecer. Lembras-te?! Apenas te ficavam vocábulos designativos. Perdias, na desarrumação do corredor, a palavra das relações e do sentir. Ficavam atadas num local do teu ser... atadas como as peças que atulhavam o corredor.
Atulhados os corredores porque era preciso partir. Atulhada tu de sentires e de palavras porque partias...porque tinhas acabado de chegar. Chegada tu sem ter ainda deixado de estar lá de onde vieras. Um corredor atulhado lá, outro aqui.
E tu sem palavras e com aquele olhar comprido.
Parece-te até que o corredor tinha essa finalidade: de se assim encher, de tempos em tempos que daria uma frequência. Diria que se ouvia.
Um corredor. Uma geografia das casas. Um espaço que servia para que portas desembocassem no para dentro da casa. Um espaço de passar para os espaços de ser na casa.
Não se vivia no corredor. Passava-se nele...

Vivia-se nos corredores que recordas olhando essa foto?!
Ah! nos momentos de atulhamento...
... tu sempre te sentavas num recanto?!
Havia sempre um recanto em cada corredor de chegada e em cada corredor de partida?!
Havia sempre um canto em cada corredor...
Um canto que te aninhava... no corredor ...
Aninhada... antes...até que...
...devagarinho...
voltavas à palavra!





Obrigada Ognid pela foto que me deu estes ir lá onde andamos ou nem sabemos se apenas sonhamos...

10 comentários:

bertus disse...

...tantos corredores por onde corri a vida, me vieste recordar esses íntimos e reconditos lugares de...passagem e de estar. De alguns até nem a memória me ajuda a regressar por inteiro...mas nesses casos, há odores que os lembram e os situam, embora sem pormenores...como o dessa imagem que está simplesmente fabulosa porque é um bocado de cada um de nós, um momento (ou muitos) do nosso viver, não exactamente igual, mas assim.
Fica bem e intés!!

wind disse...

Extraordinário texto sobre os corredores da nossa vida. Há uns mais claros que outros. Genial a foto de ognid. O post está perfeito no seu conjunto:-) beijos

Unknown disse...

A nossa vida tem montes de corredores, corredores cheios de boas recordações e corredores cheios de dor e tristeza magoa e solidão.
Um beijo

mjm disse...

Não se vivia no corredor. Passava-se nele...

Vasos comunicantes, de facto. Como certas palavras em-trânsito, mas amontoadas e atadas. Os corredores da vida têm que permitir que se circule, nemque se arrumem em palavras, ou se guardem em imagens.
São passagem; não apeadeiro.
Kisses

lique disse...

Eu já devia estar habituada às tuas palavras e ao poder pictórico e evocativo de sentimentos que elas carregam. Mas nunca me habituo e surpreendo-me em cada texto. Viajei pelos corredores da minha vida, por um muito comprido que me acendia o medo de dormir lá no meio. Parecia longe de tudo... olha agora continuava para aqui a divagar! Vês o que me fazes? Beijão

Unknown disse...

Os teus textos são... os teus textos. Pelos vistos todos passámos por corredores destes nas nossas vidas. Fico orgulhos que a foto te tenha inspirado este texto magnifico. Beijos.

Amaral disse...

Nos corredores da nossa existência estão amontoadas as emoções e os sentimentos que produzimos. Nunca são demais os corredores, porque são poucas as sensações e as experiências que criamos, enquanto nesta vida.
Depois do burburinho das chegadas e partidas, só um cantinho para nos quedar tranquilos e aninhados em nós mesmos!...

Unknown disse...

finalmente estou numa casa que não tem corredores... os corredores dão-me uma sensação de impotência, é preciso chegar ao fundo sem saber o que se encontra... são um sinal de espera, de ansiedade. fazem lembrar-me de hospitais...
beijinho menina.

ps: consegui que tudo corresse bem. esta barreira já está ultrapassada.

António Botel disse...

abstracções...intimidades não?

VdeAlmeida disse...

Ninguém mais ilustraria assim uma imagem, esta imagem que todos nós temos na retina, mais a cores,, mais a sépia, mas nossa. E muito bela. Só tu mesmo :-)

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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ABRIL DE 2008

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"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
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