sábado, 12 de fevereiro de 2005

Zoom

O quente vermelho do sol brilha, indecoroso, dependurado de um céu entre o azul e o plúmbeo. Sopra brisa de norte. Uma frescura que não perpassa o rosto, osso embrulhado de pele ondulada.
Em volta, a terra perdeu há muito qualquer sinal de verde. Montículos de pedras confundem-se com a terra esboroada por pés desnudados num arrastar silencioso, lento.
As árvores são troncos acinzentados, caminhantes em fúnebre cortejo.
Uma sombra paira. O voo baixo de uma águia não refresca o escaldar do sol. A paisagem não se enobrece de vida. A águia poisa no ramo mais alto de uma árvore. Árvore sem copa, sem folhas, sem mais que tronco e raiz. A brisa é morna.
Numa escala diferente de visão, a mesma paisagem. Uma face recoberta de pele seca e pelos hirtos. Um granulado salpicado de montículos castanhos. Tudo seco. Tudo quente. Tudo pardo. Troncos mirrados, arrastam, doridos pés. Nas dobras de pele escorre uma seiva acastanhada.


Olho as fotos que tiramos. Ficaram belíssimas.
Recordo o ermo do local e o acaso de um velho.
Ou era um réptil em vias de ressurgir numa nova pele?
Selecciono as fotos a enviar para a exposição.


Lá fora chove intensamente.

13 comentários:

bertus disse...

...texto tão denso e árido como a paisagem que descreves. "Cinco estrelas" como diz a minha amiga Kitty.

Só um pequeno detalhe emsombra a escrita: mas que raios estará ali a fazer uma águia?! Porque não um leão??

Tem um óptimo domingo, abraço amigo e intés!!

lique disse...

Bolas... até fiquei com vontade de ir beber uma jarro de água!
A seca e a secura da idade num belo texto, como é costume. Beijão

Manuela Neves disse...

Olá, Belíssima descrição. Gostaria muito de ter a tua presença no CONCURSO que abri hoje no meu Blog: http://bica.blogs.sapo.pt Junta-te e vem tomar 1BICA e água que já apetece. BJS.

sotavento disse...

Não sei porquê, visualizei uma vida desenhada nas rugas de um rosto de mulher...

BlueShell disse...

A minha alma anseia por uma réstia de sol...(aos domingos reunia-se toda a família...entendes?)
Desculpa...mas não li convenientemente o teu “post”, por isso, não vou comentar. Jinho

Anónimo disse...

Cruzes, amiga, até fiquei com a língua seca... mas água NÃO, que enferruja cá o realejo!!!
Texto denso, mas gostei da tua forma narrativa.
E a fotografia está muito boa e bem inserida no contexto.
Mas já estou farto de bom tempo (mais frio NÃO, quero CHUVA!!!)
José Gomes

Nia disse...

Verdade que dá mesmo sede este teu post, hoje.Significa que és uma óptima "desenhadora-pintora " de ambientes.Ambientes de árvores e gente.A vida algures por aí...talvez nas asas da águia que ainda voa e resiste, habituada às "secas" duras. Ainda bem que depois das fotos (e que árvore bonita assim mesmo seca, "morta"!), choveu.Molhou a chuva o chão gretado...molhou os lábios de alguém que pensava que já não ia "chover" na vida dela.

bertus disse...

..ouviste Seila? a Nia está a precisar de chuva...
querem ver que a mulher é da agricultura?!...já não lhe chega ser apicultora...
as coisas que um sujeito vem aqui descobrir.

intés!!

VdeAlmeida disse...

Um texto sequioso, violento. Mas a tua escrita nunca é árida. Vem de chão fecundo. Bjinho, Seila :-)

BlueShell disse...

Pode parecer estranho mas acho que estou, de novo, apaixonada...
Pelos sintomas...
Jinho, BSHell

Alexandre de Sousa disse...

Como sempre vale a pena vir porque dá sempre vontade de ficar.
Alexandre

bertus disse...

...menina: avariaste a máquina ou quê??? foi por causa do zoom??..vá lá que quero comentar-te...
Intés!!

(hoje até a Nia esta mais desembaraçada que tu...)

bertus disse...

...como andas de "maus-fígados" comigo, vou deixar-te aqui uma mensagem importante:

Tem um óptimo fim de semana, com tudo a correr pelo melhor.
Um abraço amigo e intés!!

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

desafio dos escritores
meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

ABRIL DE 2008
meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein