quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

fragilidades

O dia de Natal... mais um vinte e cinco depois de mais uma Consoada...apenas mais uma mais nada?!
Os olhos estendem-se para além do que está e...não vislumbram...nada mais que o que existe – visível e penumbra. Uma densa névoa tolda tudo o que tento olhar para além daquilo que vejo, se é, sequer, que realmente é o que vejo aquilo que realmente lá está. A penumbra adensa-se em negrume se olho outro. Se tento vê-lo além daquilo que de imagem percebo, fica-me assim mais nada que um eu. Isso! É como se me visse apenas rodeada de espelhos e neles apenas vejo, mais ou menos fosca, sempre alterada, a minha, a minha só, a minha imagem. E, mesmo assim, quando me apercebo que sou eu apenas que me vejo reflectida, e tento perceber, então o que me vejo eu em mim para tanto me sobrepor ao eu do outro que desse modo desvejo. Fico inerte. Soçobro numa visão de imagem parada como se o meu eu reflectido em todos, em cada um dos que, assim, nem olho, se esfumasse para um fundo e deixasse aquela imagem desfocada que nem sou eu nem é mais nada. Fico, como imaginam, sozinha. Nem me alcanço a mim nem estou com eles. E rio e choro e palavreio, mas no fundo de mim sobra um vazio. Como se quisesse dar-lhes a mão e escorregasse cada um dos dedos em cada um dos deles esticados, ansiosos de dar e receber, eu e eles...e sós...a escorregar para um fundo de nada. E sei que sou eu que me meto no meio. Sinto que sou eu que rodeada dos meus espelhos, incapaz de quebrar cada um deles, me afasto e fico apenas vendo a sombra daquilo que cada um é e os deixo, a eles também, de mim sozinhos. Posso acordar de mil e uma madrugadas. Posso dormir de mil e muitos sonos descansados. Mal me coloco de frente a cada um, fico longe, distante anos – luz como se os elos da cadeia ali em mim estivessem quebrados por um qualquer ácido ou ferramenta de corte que deixou um elo muito, muito fraco e de cada lado eu e todos, todos eles. Posso acordar e ficar pensando. Posso ficar madrugada adentro matutando. Posso sacudir milhões de vezes o corpo em sentidos e sinceros soluços. Posso receber mil sorrisos e sorrir de volta. Posso escrever e ler e passear. Posso isso e muita outra coisa. O que não consigo, aquilo que me está vedado, é algo de profundo, algo de congénito ou adquirido por um qualquer instante acontecido que por mais que pense não deslindo e fico assim sem nada de mim e sem nada realmente de cada um. Parece-me, por vezes, que é amor aquilo que não sinto. Parece-me, outras tantas vezes, muitas, que há em mim uma incapacidade de dádiva. Parece-me que me ficou faltando em alguma parte do meu crescimento, aquele bocadinho de ser amada que daria assim como que uma semente que, germinando, me daria agora a capacidade de não andar pedindo, pedindo e fingindo, quase me convencendo, que o que ando a fazer é dar quando ando apenas implorando aquele pedacinho que me não foi dado.
Sou muito grande, velha quase. Sobra-me pouco tempo para tal façanha. Mas tenho vontade de fazê-lo. Libertar-me de mim. Olhar os outros sem me ver a mim. Deixá-los partir sem lhes criar peias e, ficando comigo, conseguir olhar-me como sou e deixar de andar a pedir o tal bocadinho que não germinou, mas que posso adquirir cá num fundo de mim que recria as coisas. Em mim a solução e não o problema?! Muitos o dizem de si, leio por aí. Não sei se alcancei a dimensão plena deste saber que a frase encerra.

11 comentários:

Toze disse...

Acabaste de alcançar a dimensão plena do teu...saber !

beijo grande e Bom 2005 !

Finurias

bertus disse...

...tu metes-me em cada leitura, mulher marafada! Os teus dedos não descansam e depois o meu intelecto que prove que inda deslinda textos deste calibre.
Isso éra o que tu querias, aliás andas sempre à volta desta ideia que é mais ou menos assim: "deixa-me cá ver se apanho o porco em dia sim para ver se se abre um bocadinho que o raio do animal é escorregadio, inventa histórias mas falar sobre ele, tá quieto ó preto!".
Pois já devias saber que aqui este menino tem a escola toda, são muitos anos a virar frangos e por aí adiante...mas sempre te vou dizendo que tu não estás assim tão baralhada contigo própria como pretendes fazer crer, que não sou só eu a fazer ficção...da realidade...as perguntas que te fazes (escrevi bem: "que te fazes") tens respostas para elas todas que eu tenho aqui um dedinho que adivinha tudo. Bom. Parece que já me estou a esticar e depois vou por aí fora que é o que tu pretendes, espertalhonha!
Mas não quero terminar sem te desejar um Ano Novo muito bom, com algumas coisas que tenha pedido para ti própria e para os teus, a concretizarem-se. E que nos encontremos pela blogsfera SEMPRE que tu fazes parte dos meus amigos cada vez menos virtuais.
Um beijo amigo do Bertus...e intés sempre!!

BlueShell disse...

Alcançaste, sim...
E sabes...uma pessoa nunca é suficientemente para certas coisa...
E há que procurar bem fundo, em nós mesmas...esse bocadinho que achamos que nos faz falta...
Tô triste...hoje não digo mais. Recebe um beijo aqui da Blueshell e outro da Whiteball ( que mandou dar-to)...

VdeAlmeida disse...

Quem escreve um texto desses, quem faz uma introspecção assim, não tem capacidade de se dar, de dádiva? Hum...não acredito nada nisso.
Beijinho, um xi, e que o 2005 te dê o que pediste e mais ainda. Tudo de bom, algarvia linda :-)

Lola disse...

A vida deve ser um caminho, uma busca de nós mesmos. Enquanto nos procuramos sem cessar, fazemos os outros felizes, amamos, rimos, choramos.... Um bom ano para ti e um beijo :-)

almaro disse...

Reli um sem numero de vezes este teu texto e o primeiro sentir (primário portanto) foi de zanga (de zanga à almaro, claro, que é mais para o suave e sempre pronto a um beijo, caso sinta um beicinho a formar-se ao jeito de um vulcão de tristeza).
Zangado por ti e por essa auto-flagelação solitária que minimiza o verbo DAR.
É verdade que não sou perito nestas coisas blogueiras, muito menos da Vida, por isso falo da minha relação contigo ( temos uma relação de palavras e de silêncios).
Dá para perceber que colocas nas tuas letras todo o afecto disponível no teu sentir, e isso toma dimensões gigantescas, quando do outro lado se está só. E cada um de nós do outro lado está só, doutra forma não estaria aqui .
Não nos conhecemos, mas sentimo-nos. È esta a magia de deixarmos o tempo escorrer agarrados ás palavras e sentirmos ternura, carinho e amizade por todos aqueles que dão o que têm ; o seu sentir através das palavras.
Foi por sentir que não achas isso importante e por te teres excluído desse DAR que fiquei zangado.
Depois pensei: vou escrever-lhe um mail a descompô-la!
Arrependi-me, como podes verificar.
Voltei a ler o texto, par ver se tinha entendido a tua solidão.
Entendi! Julgo…Que isto de se entender um solitário, não é coisa fácil, muda de humores sem aviso prévio.
Entendi o vazio, pela simples razão que não damos a devida importância às palavras. Precisamos de tocar, de sentir, de olhar, de TER!
Mas se formos justos e sérios com as palavras que deixamos, sabemos e acreditamos que aqui e ali semeamos amor, que aqui e ali recebemos amor. É esse amor que tenho recebido nas tuas palavras que quero testemunhar aqui perante de todos e de ti. É esse amor que faz de ti IMPORTANTE, é esse teu DAR que te faz especial! Por isso estou zangado contigo, por isso quero dizer a todos e a ti que estou zangado com a SEILA que escreveu este texto.
Um beijo,

wind disse...

Caramba (desculpa lá) e como tu sabes alcançar-te e alcançar-nos. Até me deixas sem palavras! Aproveito para de desejar um bom 2005:) beijos

eli disse...

Primeiro que tudo, os meus parabéns pela ideia da tal corrente de solidariedade.
Minha menina, não sou capaz de comentar o teu post, simplesmente, porque há pormenores importantes que desconheço. Mesmo assim, ainda digo que esta época se presta muito a cinzentismos muito destruidores.
Um beijo e que o Novo Ano te traga o que mais desejas.

Anónimo disse...

É a segunda vez que isto me acontece, e é sempre aqui.
O comentário anterior é meu e não de tecum, que é uma amiga minha e que me tinha pedido para ver um rascunho dela. Claro que quando saí me esqueci de mudar de url, e pronto apareço com outro nome.

bertus disse...

...sabes que a Bia,...péra que é Mia, não não é ! é Nia!!!que a Nia já chegou? ; e foi assim a modos que às três pancadas: chegou, disse e foi-se! Assim exactamente!, ó Seila que eu até estou estupefacto, que dá ideia que não foi nada com ela e a gente práqui preocupados...Nunca mais me preocupo, acabou-se!
Olha já foste ao super? se não foste, traz-me de lá se não te importas, dois quilos de bife do lombo que eu quero empaturrar-me no fim do ano com carne, muita carne! Depois eu pago-te; não tenhas receio que sou de boas contas. Ah! a minha cabeça...e já agora uma lata de conservas Bom Petisco que é para o papagaio que ele gosta daquilo que se farta! Obrigado. A gente logo à noite encontra-se no café do Mendes depois de jantar.Vê lá não te atrases como é costume. Intés!!

inconformada disse...

Mulher, que me deixaste dorida ! Ando há uns dias com esta ideia do DAR - o que é dar, será uma desculpa para pedir ? - um pensamento que quase me tem atormentado. Eu preciso de tudo muito bem explicadinho dentro de mim, preciso de me entender, de ter a certeza que posso não estar a fazer o mais correcto, mas que estou a fazer o que acredito ser melhor, entendes ? Estou como a Lique "isto deve ser das Festas", o final de qualquer coisa e, melhor ainda !, o início, mais uma oporttunidade para recomeçar, dá-me (dá-nos ?) para pensar em tudo, fazer balanços, escolher caminhos (a confusão que para aqui vai ! mas não vou corrigir nada, vai ficar mesmo assim). O teu post traz-me duas memórias: a primeira, e logo eu que nem acredito em divindades, é a Oração de S.Francisco ("... é dando que se recebe...") e a outra é o refrão do "Killing Me Softly" ("... telling my life with his words..:").
S.Francisco de Assis e Roberta Flack juntinhos num comentário... olha só o que me fizeste escrever !! :-)
Um abraço enormeeeee mulher linda

adoro estes espectáculos - este é no mercado de Valência

desafio dos escritores

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meu honroso quarto lugar

ABRIL DE 2008

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meu Abril vai ficando velhinho precisa de carinho o meu Abril

Abril de 2009

Abril de 2009
ai meu Abril, meu Abril...




dizia ele

"Só há duas coisas infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas quanto à primeira não tenho a certeza."
Einstein